sábado, fevereiro 24, 2007

O PRÓXIMO



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Todos se foram!

Não fizeram barulho.
Não arrastaram mobílias.
Não gritaram revoltas.
Não cresceram a família.
Não bateram a porta.
- Estranhos mistérios...

Responderam as perguntas
com a mesma resposta:
-"Acabou o carinho,
o amor foi embora
sem motivo..." Ilógico.

Olhando a janela-
a cadeira vazia
balança vadia
esperando
- eterna e muda -
o próximo...
Por favor -
o próximo!

(Elza Fraga)

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

TER E NÃO TER


Eis a questão....

.
Tira a roupa do varal
vem aí o temporal
- o maior da tua vida!...

Deixa a comida na mesa,
requentada, com certeza,
que vem aí o glutão
que comanda teu cordão
- marionete ferida...

Aquece o leito gelado
esfria a tua razão.
Desnuda o peito mirrado
que vem aí o teu medo
- o macho que te consome...

E dorme -muda-de fome
de um sabor verdadeiro
de homem!

(Elza Fraga)

terça-feira, fevereiro 20, 2007

ATEMPORAL

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[Não nasci e não morro, fico em forma de poesia.
O tempo só assusta a quem o desafia.]

A vida que escorre e passa
rodopiando ao vento
não me traz o sentimento
do medo da cavalgada
do tempo...

Nasci sem forma ou idade,
sem data de validade,
a minha identidade
é ser mata no temporal!

Árvore no chão fundida
podando as marcas vividas
estranha e atemporal.

Não trago mágoas da vida
na pele que vim vestida
listrada de bem e mal

em igual
medida.

(Elza Fraga)

sábado, fevereiro 17, 2007

INSANIDADE SADIA


A poesia traz sempre a insanidade doce,pois esta só pertence as crianças e aos poetas...

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Todo poeta nasce insano,
cresce,
tece poemas,
entra ano e sai ano!

Todo poeta vive insano,
enche a cara e fita o céu,
escreve trovas, cordél,
sonetos, por garantia
de fazer boa poesia.

Todo poeta morre insano
e deixa escrito, de epitáfio:
"Aqui jaz a (in)lucidez
de um poeta temporário
a quem os poemas
que fez
trouxe loucura e vida...
Trouxe sonhos,
o fez amado...

Viveu feliz o coitado!.

(Elza Fraga)

sábado, fevereiro 10, 2007

UMA BENÇÃO CELTA


Por John O´Donohue

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No dia em que o peso amortecer-se
Sobre teus ombros e tropeçares,
Que a argila dance para equilibrar-te.
E, quando teus olhos congelarem-se
Por trás da janela cinzenta,
E o fantasma da perda chegar a ti,
Que um bando de cores Índigo, vermelho, verde
E azul-celeste,
Venha despertar em ti
Uma campina de alegria.
Quando a vela se esfiapar no barquinho
Do pensamento, e uma coloração
De oceano escurecer abaixo de ti,
Que surja por sobre as águas
Uma trilha de luar amarelo
Para levar-te a salvo para casa.
Que o alimento da terra seja teu,
Que a claridade da luz seja tua,
Que a fluidez do oceano seja tua,
Que a proteção dos antepassados seja tua.
E, assim, que um lento vento
Teça estas palavras de amor
À tua volta,
um invisível manto,
Para zelar por tua vida.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

CANTAR ME ENLOUQUECE


RABINDRANATH TAGORE

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Quando me ordenas cantar,
parece que o meu coração vai arrebentar-se...
Pensei que poderia te pedir a grinalda de flores que levas no pescoço...
Essa que ficou sempre na profundidade do meu ser...
A minha libertação...
Daqui por diante eu me expressarei em sussurros...
Cantar me enlouquece...
Quando me ordenas cantar,
parece que o meu coração vai arrebentar-se de orgulho.
Então contemplo a tua face e as
lágrimas me vêm aos olhos.
Tudo o que é duro e dissonante em minha vida se dissolve
em única e doce harmonia,
e a minha adoração abre as suas asas,
como um pássaro alegre voando sobre o mar.
Sei que tens prazer no meu canto.
Sei que posso chegar à tua presença apenas
como um cantor.
Com a ponta da asa imensamente
aberta do meu canto eu roço os teus pés,
que eu jamais poderia querer alcançar.
Embriagado pela alegria de cantar,
esqueço a mim mesmo e te chamo amigo,
tu que és o meu Senhor.
Pensei que poderia te pedir a grinalda de flores que levas no pescoço,
mas não me atrevi.
Fiquei esperando pela manhã,
quando tivesses ido embora, para encontrar pedaços dela no leito.
E fiquei na madrugada feito mendiga,
procurando uma ou duas pétalas caídas.
Coitada de mim, o que foi que
encontrei?
O que me restou do teu amor?
Nem flor, nem perfume, nem jarro de água perfumada...
Apenas a tua espada
poderosa, flamejante como chama e pesada
como raio na tempestade.
A luz jovem da manhã entra pela janela e se derrama em
teu leito. O pássaro da manhã começa a
cantar, e me pergunta:
"Mulher, o que é que encontraste?"
Não, não foi uma flor, nem perfume e nem jarro de água
perfumada.
Encontrei apenas a tua espada poderosa.
Sento-me e fico cismando, admirada com essa tua dádiva.
Não acho lugar onde escondê-la.
Tenho vergonha de usá-la, tão frágil sou,
e ela me fere quando eu a aperto contra o peito.
Mesmo assim, porém, eu levarei no meu coração
esse honroso fardo de dor,
que é a tua dádiva para mim.
Doravante nada mais temerei neste mundo,
e tu conquistarás a vitória em todas as minhas lutas.
Deste-me a morte por companheira,
eu vou coroá-la com a minha vida.
A tua espada está comigo para cortar as minhas amarras,
e nada mais temerei neste mundo.
Doravante eu abandono todos os adornos fúteis.
Senhor do meu coração,
não vou mais ficar esperando ou me
desesperando pelos cantos, e nunca mais
vou ser tímida ou caprichosa.
Deste-me como ornamento a tua espada.
Não preciso mais dos enfeites de boneca.
Essa que ficou sempre na profundidade do meu ser,
no crepúsculo de vislumbres e percepções momentâneas;
essa que jamais retirou seus véus na luz da manhã,
essa irá ser a minha última oferenda a ti, meu Deus,
envolta na minha canção final.
As palavras a cortejam, mas não conseguiram vencê-la,
e a persuasão inutilmente estendeu para ela os seus braços ansiosos.
Vaguei de país em país, conservando-a no íntimo do meu coração,
e ao redor dela a minha vida ergueu-se e caiu,
ao mesmo tempo forte e frágil.
Embora habite sozinha e afastada,
ela sempre reinou sobre todos os meus pensamentos
e ações, sobre todos os meus sonos e sonhos.
Muitos bateram à minha porta, perguntaram por ela,
e foram-se embora, sem esperança.
Ninguém no mundo conseguiu vê-la face a face,
e ela continua em sua solidão,
à espera do teu reconhecimento.
A minha libertação, para mim, não está na renúncia.
Sinto o abraço da liberdade em mil laços de prazer.
Daqui por diante eu me expressarei em sussurros......
Gastei muitas e muitas horas na luta entre o bem e o mal.
Mas agora o prazer do meu companheiro de jogos nos dias vazios
é atrair o meu coração para o seu.
E eu não compreendo por que esse repentino
convite para não sei qual inútil inconseqüência!
Cantar me enlouquece,
e se eu me desfizesse todo num vôo
de canção,
nada me pesaria tanto...

(Tradução de Ivo Storniolo)

sábado, fevereiro 03, 2007

PAI NOSSO ARAMAICO





A oração ensinada por Jesus
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Pai Nosso Aramaico

Abwun d'bwashmaya
Nethqadash shmakh
Teytey malkuthakh
Nehwey tzevyanach aykanna d'bwashmaya aph b'arha.
Hawvlan lachma d'sunqanan yaomana.
Washboqlan khaubayn (wakhtahayn) aykana daph
khnan shbwoqan l'khayyabayn.
Wela tahlan I'nesyuna
Ela patzan min bisha
Metol dilakhie malkutha wahayla wateshbukhta
l'ahlam almin.
Ameyn