sábado, abril 28, 2007

CICATRIZES

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A vida toda
Corri atrás
De utopias

Minhas manias

Amor direito
Filhos perfeitos
Feliz pra sempre

Só não sabia

Que o tempo
Escorrendo
Frio e feio
Rasgava ao meio
Os projetos
Que eu fazia

E fiquei
Com mãos vazias
A escrever

Triste esta história

Sem memória
de dias felizes
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Só cicatrizes!

(Elza Fraga)
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sábado, abril 14, 2007

O VERSO IMPERFEITO

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Garimpar o texto
buscar a palavra perfeita
que falta
e encaixa sonora
e dá o desfecho sonhado...

Ah, o verso é um danado
teimoso nos escorre nos dedos,
num atropelo indomado
quando tentamos alcançá-lo!

(Elza Fraga)
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terça-feira, abril 10, 2007

ATÉ NUNCA MAIS


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Todas as vezes
que alguém lhe escorraça
você busca abrigo em mim
e acha!
Quando as coisas melhoram
pro seu lado
o elo principal
é então cortado
e você zarpa
sem tchau, sem beijinho,
só ponto final!
Não lhe peço pra lavar
a minha louça,
a minha roupa,
fazer minha comida,
beijar a minha boca,
pra me prender sequer
um grampo.
Eu mesma trampo!
Eu erro os meus próprios erros
e acerto os meus acertos
então não volte,
até nunca mais,
e me deixe viver minha vidinha
mesmo emburrada,
como você diz e acha,
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mas sozinha!
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(Elza Fraga)
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sábado, abril 07, 2007

PÁSCOA


Triste reparação!


Senhor
eu nunca pesquisei a Tua cor
a Tua etnia.
Não quis ler
Tua biografia.
Me ative só no principal,
Teu coração
doado em toda a dor,
pra nos fazer aprender
sobre o amor
Agora,
tanto tempo já passado,
estou aqui nesta triste missão
de Te pedir perdão.
Perdão por cada um de nós
que Te ungiu com pedras,
Te feriu,
Te olhou nos olhos
e Te cuspiu.
Perdão, Jesus,
Meu Mestre e Salvador
por toda a dor que o homem
Te infligiu
Pois este erro pertence
a mim também
por extensão,
e que o Teu renascimento
a cada ano
nos traga o arrependimento
e a redenção
Amém, Amém, Amém!

(Elza Fraga)
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quarta-feira, abril 04, 2007

VIM DE CACHOEIRA


Vivo comigo, virada pro meu próprio umbigo!...


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Não nasci pra viver nesta prisão,
nasci fadada a uma grande solidão...
Este é meu fim e meu enredo...
Seguir só, desbravando
a própria estrada,
cantando na alvorada meu segredo.
Não posso ir montada, de garupa,
juntando trapos, misturando medos.

"Dá o pé, louro"...
Eu não posso
que o meu pé foi feito pra poeira.
Respeite o meu feitio,
a minha beira,
que nasci pra lá da margem...
Aguaceira.
Não estou de forma pra comando,
nasci pro mando - sou dona da zoeira.
Aprendi a controlar a fome e o medo...
Não vim de rio, vim de cachoeira.

Não nasci pra viver nesta prisão,
vim destinada a uma grande solidão.
Respeite o meu desmando,
o meu degredo...
Não vim de palacete, vim de esteira.
Não vim de dama, vim de passageira...
Não sou madama
de casa e estoque,
sou de choupana,
de vidro e berloque...
Sou cachoeira.

Não nasci pra viver com este toque
- fêmea francesa.
Sou da vida, danada e brasileira.
Não aceito ter dono
e nem fronteira...
Não nasci pra viver no teu cangote,
tome teu bote, derive pela beira...
Recolhe o cio,
transfere teu mote...
muda o curso do teu rio
- na poeira...
Evita a queda
que sou cachoeira!

(Elza Fraga)

Publicado em "Coletânea Literária-
Casa do poeta Rio Grandense- 2006"