terça-feira, outubro 31, 2006

A ESPREITA

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Sentada a espreita,
a espera,
sofrendo...

Ai quem me dera
fosse embora a ansiedade
esbugalhada no olhar...

Chorando o caos
da saudade,
embutida na verdade
do telefone,
calado,

que nunca mais vai tocar
tendo você do outro lado!

(Elza Fraga)

segunda-feira, outubro 30, 2006

SOLAMENTE

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Siga-me
como quem dança,
com passos,
e caras,
e bocas,
de criança
malcriada...

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
Mais nada!

(Elza Fraga)

domingo, outubro 29, 2006

A DO ESPELHO




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[No meu reflexo mora o meu mundo/medo interior.
E dele salta, molhado, o pavor
de caminhar sendo a única companhia
que mereço e tenho.]


Quem me ama e me conhece...
Quem sabe das minhas preces,
não é quem me sabe sua!

É aquela que, do espelho,
me olha com olhos de medo
nas noites frias, sem lua!

(Elza Fraga)

sexta-feira, outubro 27, 2006

POEMA NOS OLHOS

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Eu tive um poema nos olhos...
Espreitou-me
a madrugada inteira.
Se delineou,
se enfeitou,
me envolveu...
As pressas se rompeu
-torto,
não se escreveu!

Eu tive um poema nos olhos...
Absorto,
calmo,
contemplativo.
Me estreitou
-apertado
como abraço de amigo.

Deitou-se a cama comigo,
comigo adormeceu,
se esparramou,
se perdeu,
mas teimoso
ainda assim
não se escreveu!

Eu tive um poema nos olhos
que preferiu morar mudo
no fundo dos olhos secos
com pena do mundo!

(Elza Fraga)

terça-feira, outubro 24, 2006

CARTA AO CRIADOR / Maísa Intelisano




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Hoje posto um artigo de uma amiga do grupo espiritualista,
a que também pertenço, possuidora de uma sensibilidade
e um discernimento de fazer inveja, rs, no bom sentido.
Escrito como uma carta / apelo ao Criador, concisa,
serve para nos fazer refletir na necessidade deste diálogo,
tão consolador e pleno: A prece.
Obrigada, Maísa Intelisano, por me permitir a postagem.

Senhor do Universo:
A ti nos dirigimos para colocar-te a par dos nossos últimos feitos.
Não que exista algo que tu não conheças, mas porque, assim agindo,
colocamo-nos em dia conosco mesmo.
Sabes que já aprendemos a reconhecer-te a vontade sábia e amorosa
em muitas situações, no entanto, custa-nos ainda aceitá-la justa.
Cremos nisto, mas nossos sentidos encontram-se ainda presos às sensações
imediatas e a aparência acaba falando mais alto ao nosso espírito.
Temos tentado manter-nos em contato contigo pelos mais variados meios
e sempre que possível, mas parece que os nossos aparelhos íntimos
de comunicação celestial encontram-se necessitados do reparo da oração.
Nosso empenho é grande, como bem sabes, mas o embotamento de que padece
a nossa fé ainda nos perturba o intento.
Entretanto, já conseguimos perceber-te em muitos lugares,
sob as mais diversas formas.
Tua manifestação variada causa-nos deslumbramento, embora, às vezes,
ainda não a saibamos apreciar à altura. Somos céleres em pedir e suplicar
o teu concurso, isto somos.
E quantas vezes não somos também precipitados nos pedidos que a ti dirigimos. Sentimos a tua sublime presença nos incontáveis mensageiros que nos envias
todos os dias e somos imensamente gratos a ti pelo tanto que nos amparas.
Por isso, nesta humilde carta, gostaríamos, sobretudo, de agradecer-te,
mas, se possível, também fazer-te uma pequena solicitação. Recruta-nos para
o teu serviço abençoado e, para ele, prepara-nos com a tua luz e a tua
misericórdia, pois, se ainda falhamos em tantos pontos da vida infinita,
num já nos encontramos humildemente conscientes:
o de querer sinceramente aprender para crescer.
E assim, por tua atenção, a nossa gratidão, o nosso amor e o nosso respeito.
Teus filhos,
SERES HUMANOS

Recebido espiritualmente por Maísa Intelisano,
fevereiro de 1997.
por Maísa Intelisano -
alfamintelis@yahoo.com

domingo, outubro 22, 2006

ANCORE SEU BARCO

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Não deixe que fatores externos, como julgamentos a seu respeito,
maledicências e calunias, o afastem do seu porto.
Ancore o seu barco, apesar das intempéries.
Na vida não somos vistos como realmente somos, já diziam os filósofos.
"A bem da verdade moram tres seres dentro de cada homem:
O que ele é.
Como ele se vê.
E como o outros o vêem.
"Seja sempre e apenas o que você é"...
O resto é julgamento errado e oco.

(Elza Fraga)

VIDA ESCORRIDA

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Quanto mais vida vivida
mais perdas,
mais descompassos...
Esparsos sonhos,
no tempo,
espalhados pelo vento...

Nunca a hora da colheita.
Nunca o abrigo que chega.
Nunca me expande o espaço.

Quanto mais vida vivida
mais tristezas
mais fracassos...
A alma morando ao relento,
tropeçando – passo a passo,
Na estrada do desalento.

Quanto mais vida vivida
Menos a vida seduz
Cada dia menos tempo.
Cada dia menos luz.

E a mágoa, a dor, o tormento
Chicoteando as feridas
-que tento manter escondidas-

Fazendo o peso da cruz.

(Elza Fraga)

quarta-feira, outubro 18, 2006

PARTINDO

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TUM...TUM...TUM...

Passos cortados
Contados um a um...
Pesados... Sonoros.

Diminuindo o som.
Diminuindo o tom.

Se revertendo
Se perdendo
Se calando...

TUM...TUM...TUM...

PartindoNoite a fora
indo embora...
Indo...

SUMINDO
SUMINDO
SUMINDO

(Elza Fraga)

ALIENAÇÃO

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Vamos pensar só besteiras,
falar um monte de asneiras,
buscar o homem que importa
e colocar num cantinho.

Vamos abrir nossa porta
pra fofocar o vizinho
cobrir o nosso caminho
com o cheiro da própria bosta.

Só ler revista maneira
dessas que contam da vida
dos que importam no pedaço.
Fechemos nossas feridas
com o curativo falso
da hipocrisia inventada.

Esqueça o mundo lá fora
que a vida é só nosso umbigo
e o macho que nos suporta.

Que as novelas ajudem
a empurrar os amigos,
a familia, a crença, o lar
pra lá longe... no infinito!

E vamos então nos fartar
do que nos resta de sorte,
esperando, sentadinhos,
o que escreverão sobre nós
na hora da nossa morte!

(Elza Fraga)

PESADELO






Repentinamente
a dor aguda
feito uma farpada
ponta de entrada

dentro da alma
rasgou a carne
atravessou o nada
como se fora real.


E o pus que jorra
cara a fora

sulca como o sangue
quente
escorrente
incoerente
marcando a face
antes plácido disfarce.


Quem dera que alma não doesse
Quem dera que alma não vivesse
Quem dera que logo acordasse
e levantando, espectral,
gritasse,
que fora apenas mais um pesadelo.
(Elza Fraga)