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Não nasci pra viver nesta prisão,
nasci fadada a uma grande solidão...
Este é meu fim e meu enredo...
Seguir só, desbravando
a própria estrada,
cantando na alvorada meu segredo.
Não posso ir montada, de garupa,
juntando trapos, misturando medos.
"Dá o pé, louro"...
Eu não posso
que o meu pé foi feito pra poeira.
Respeite o meu feitio,
a minha beira,
que nasci pra lá da margem...
Aguaceira.
Não estou de forma pra comando,
nasci pro mando - sou dona da zoeira.
Aprendi a controlar a fome e o medo...
Não vim de rio, vim de cachoeira.
Não nasci pra viver nesta prisão,
vim destinada a uma grande solidão.
Respeite o meu desmando,
o meu degredo...
Não vim de palacete, vim de esteira.
Não vim de dama, vim de passageira...
Não sou madama
de casa e estoque,
sou de choupana,
de vidro e berloque...
Sou cachoeira.
Não nasci pra viver com este toque
- fêmea francesa.
Sou da vida, danada e brasileira.
Não aceito ter dono
e nem fronteira...
Não nasci pra viver no teu cangote,
tome teu bote, derive pela beira...
Recolhe o cio,
transfere teu mote...
muda o curso do teu rio
- na poeira...
Evita a queda
que sou cachoeira!
(Elza Fraga)
Publicado em "Coletânea Literária-
Casa do poeta Rio Grandense- 2006"